31.5.07

A percepção da violência escolar



Muito se tem dito sobre a violência escolar, mas
falta ainda muito para dizer sobre a percepção que têm dela todos os interventores escolares. O retrato hipermediatizado que corre mundo objectiva muito mais a visão do professor e do adulto em geral do que a do jovem aluno. Por isso, trago hoje ao blog os resultados de uma investigação que conta já com 10 anos, mas que julgo não ter perdido a pertinência para a reflexão.


Pegando no discurso de 70 professores sobre violências escolares, Pierre Coslin (1997) elaborou uma lista de 40 comportamentos considerados perturbadores na sala de aula, sendo os mais destacados pelos professores aqueles que levam à interrupção da aula, os de oposição e de violência verbal ou física. Essa mesma lista foi apresentada a um grupo vasto de jovens alunos para que estimassem a gravidade dos comportamentos em causa. Dos resultados surgiu uma percepção claramente diferenciada, sendo que os alunos revelaram maior severidade na reprovação da maioria dos comportamentos perturbadores.

Eis alguns exemplos:

”Adormecer na aula” foi considerado perturbador por 16% dos professores e julgado grave por 84% dos alunos. “Ficar passivo, sem acompanhar a aula” mereceu a reprovação de 78% dos alunos e apenas de 26% dos professores. “Fumar na aula” foi considerado grave por 90% dos alunos e por 36% dos professores. “Insultar o professor” resultou numa condenação por 82% dos alunos e 73% dos professores e “Bater no professor que repreende” foi julgado grave por 91% dos alunos e por 59% dos professores.

Apesar das dificuldades metodológicas que o estudo apresenta, não deixa de ter relevância a disparidade na avaliação de certos comportamentos, sobretudo nalguns muito graves como insultar e bater no professor.

O estudo poderá ter múltiplas leituras e críticas, mas de imediato me ocorreu que a severidade da avaliação dos alunos talvez fosse, em grande parte, fruto da necessidade de limites claros tão necessários à construção de um ambiente saudável de crescimento e aprendizagem. E também me lembrei de um inquérito feito aos alunos de uma escola que visitei, por motivos profissionais, em que lhes era perguntado o que fazia falta ou o que admiravam num professor e a resposta maioritária foi: disciplina, regras claras, afecto e competência nas matérias dadas. Nada mais… parece simples mas não é.

1 comentário:

maria joao regala disse...

maria joao regala said...
Ao ler o teu post lembrei-me do Pedro Strecht a chamar a atenção para a quantidade de meninos com percursos difíceis ( muitas vezes pré-delinquenciais) que, quando questionados acerca dos seus objectivos profissionais, diziam:quando for adulto eu quero ser polícia!
Ou melhor, pôr ordem onde ela não existe: nas suas vidas, na sociedade. Regular as relações, estabelecer limites, impedir injustiças, saber claramente com o que contar.
Equilibrar gratificação e frustração é difícil, e resulta muitas vezes numa tarefa ingrata. Mas, se abrirmos mão dessa firmeza e do afecto claro que tem que lhe estar subjacente, o que é que sobra do acto educativo?

Maria João Regala