24.7.08

O sonho de um homem ridículo


"Crescia e fortalecia-se em mim, de ano para ano a consciência do meu ridículo, sob todos os aspectos. Riam-se sempre de mim por todo o lado, mas ninguém sabia nem suspeitavade que, se havia no mundo um homem convencido do meu ridículo, era eu próprio. E que ninguém compreendesse isso era o que me humilhava acima de tudo. Contudo a culpa era minha, pois fui sempre tão orgulhoso, que nunca concordaria com alguém que era um homem ridículo. Este orgulho aumentava com os anos e, sem dúvida, se eu pudesse confessar isso a quem quer que fosse, acredito que nessa mesma noite rebentava os miolos com um tiro de revólver."
O sonho de um homem ridículo, F. Dostoievsky

Quem sou e o que desejo revelar ao outro, no desejo de me descobrir e de ser olhado? Procuro uma imagem espelhada de mim, uma descrição de quem sei que sou, ouvida na voz de outra pessoa.
Muitas vezes, a identidade e a imagem de si forma-se periclitante e permeável.
O homem procura ser visto e não se mostra por querer evitar o trespasse, a diluição.

Como manejar isto na terapia?
Como respeitar o tempo de segurança, mais do que necessário, essencial, de um paciente devolvendo-o a si mesmo - o que conhece de si mesmo e o que é para além do que lhe foi possível ver?

18.7.08


"A intenção do narrador não é, entretanto, dar a essas formações sanitárias mais importância do que elas realmente tiveram. No seu lugar, é verdade que muitos concidadãos cederiam hoje à tentação de lhes exagerar o papel. Mas o narrador tenta-se mais a acreditar que, dando demasiada importância às belas acções, se presta finalmente uma homenagem indirecta e poderosa ao mal, pois deixaria então supor, que belas acções só vale tanto por seres raras, e que a maldade e a indiferença são forças motrizes bem mais frequentes nas acções dos homens. Essa é uma ideia que o narrador não compartilha. O mal que existe no mundo vem quase sempre da ignorância, e a boa vontade, se não for esclarecida, pode fazer tantos estragos como a maldade. Os homens são mais bons que maus, e, na verdade, a questão não está aí. Mas ignoram mais ou menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância (...)
A peste, Albert Camus

Recebi, há uns dias, na minha caixa de correio, umas fotografias do Holocausto, com imagens incrivelmente reais. De tão reais faziam-me perder alguma clareza de pensamento.
Se, por um lado, senti uma enorme revolta, por outro, senti uma revoada de perguntas a invadirem-me o pensamento. Mas terá isto sido verdade? As expressões nas caras deles... tão mortalmente serenas. E como é que estavam vivos com o corpo naquele estado. Tamanha magreza. Como conseguiam ficar de pé? Trabalhar? Aguentar o frio com aquelas roupas... e porque não têm calças? A maior parte deles não veste calças...

Lembrei-me de duas coisas que ouvi de diferentes amigos. Uma é a teoria de que o Holocausto foi um episódio utilizado pelos judeus para manipular a opinião pública; para obterem uma imagem que não me recordo qual era. A outra era sobre a quantidade de massacres e genocídios ocorridos ao longo dos últimos tempos, dos quais não se fala e os quais não têm uma cobertura minimamente significativa nos media, nas escolas, e outros meios de passagem de cultura e informação.

Fiquei preocupada com a forma volátil que o conhecimento pode tomar.
Questiono-me sobre como é que isto acontece.
Como é que se chega a este ponto em que determinado conhecimento é posto em causa, é relativizado.
Já muitos alertaram para esta questão mas creio que pouco ficou do problema que pode significar crescermos sem memórias colectivas, sem aprendizados, sem história, sem partilhas de tentativa e erro, sem soluções ganhas, sem perdas a recordar.

Recentemente vi os filmes de animação "Over the edge" e "Kung Fu Panda" e em ambos os filmes há o recurso à formação do chamado cogumelo atómico para representar uma forte e poderosa explosão.
Estarei a exagerar quando digo que considero ser ultrajante e de uma enorme leviandade a forma como a informação vai passando e sendo banalizado ao longo do tempo.

Tudo isto me deixa com muitas questões que gostava de discutir mais profundamente.
Gostava de ler o que vos ocorrer quando lêem o que escrevo.

17.7.08

IV Encontro de Estudos Sobre Ciências e Culturas em Ponte de Lima


Literatura e Geografia - da Geografia das Palavras à Geografia das Migrações

Data: 17 e 18 de Julho de 2008
Local: Auditório da Universidade Fernando Pessoa (Unidade de Ponte de Lima)

«O diálogo da Literatura com a Geografia não se esgota na imagética do espaço humano e/ou natural, nem nos contextos e referências literários — urbanos ou rurais, regionais ou nacionais, naturais ou artificiais. Opera-se, também, através de princípios estéticos, políticos e sociais que aludem e evocam terra, lugar e espaço. Termos como natureza, lugar, sítio, território, fronteira, distância, norte, sul, este, oeste, pátria, país ou casa, por exemplo, codificam, muitas vezes, sistemas de valores concorrentes entre si. O uso disciplinar destes termos contribui concomitantemente para a pluralidade de significações. Assim, para os geógrafos, por exemplo, sítio refere-se a posição, e situação à relação entre essa posição e outros elementos. Por outro lado, os críticos literários interessados na teoria da comunicação usam o termo sítio para se referirem à tecnologia de expressão, o que permite que a página e o ecrã, por exemplo, sejam lidos como variedades de formato paisagístico.
A geografia humana foca o seu estudo nos padrões e nos processos que moldam a interacção humana com o ambiente, com especial referência às causas e consequências da distribuição espacial da actividade humana à superfície da terra, envolvendo aspectos humanos, políticos, sociais e económicos das ciências sociais. A geografia cultural, como campo da geografia humana, debruça-se sobre o estudo de produtos culturais e de normas, bem como da sua variação, através das relações com espaços e lugares. Põe, também, o enfoque na descrição e análise da forma como a linguagem, a religião, a economia, a política e outros fenómenos culturais variam ou permanecem constantes de um lugar para outro, e procura explicar como os humanos funcionam espacialmente. A literatura, entendida como produto cultural, permite-nos descobrir a geografia das palavras e a geografia das migrações.
Os diversos movimentos transnacionais e as migrações contribuíram, em geral, para a renegociação das noções de território nacional e de identidade migrante. Os movimentos migrantes acabaram por originar novas cartografias dos territórios. Do mesmo modo, as construções literárias das geografias das migrações reconfiguram, por vezes, as questões de identidade. A literatura não se esgota na abordagem histórico-cultural. Pela sua dimensão poético-literária, ela suscita a construção de outros mundos e 'ultrapassa fronteiras'.»

Para mais informações consultar: http://literaturaegeografia.ufp.pt/

10.7.08

CICLO DE CINEMA EM JULHO - IMIGRAÇÃO



"""""""" NA CREW HASSAN """""""
Rua das Portas de Santo Antão, 159 (rua do Coliseu)

##### DIA 9 - 4ª feira, às 21 horas
LISBOETAS - Os imigrantes, são os novos habitantes de Lisboa – em português

##### DIA 10 - 5ª feira, às 21 horas
TERRA PROMETIDA - Imigrantes e escravas sexuais em Israel - legendado em português

##### DIA 16, 4ª feira, às 18,30 horas
FORTALEZA EUROPA - manifestações contra barreiras Europa/África - em castelhano

##### DIA 17, 5ª feira, às 21 horas
NO LAGER, NOWHERE - Campos de detenção de imigrantes na Europa – em inglês

#####DIA 23, 4ª Feira, às 18,30 horas
NUBAI - O rap negro em Lisboa, - Arrentela, Cova da Moura, Porto Salvo - português

#####DIA 24, 5ª feihttp://www.blogger.com/img/gl.italic.gif
inserir tags de itálicora, às 21 horas
OUTROS BAIRROS - O falso arrastão e histórias de bairros de imigrantes - português

#####DIA 30, 4ª feira, às 18,30 horas
BAP-SEPTA - A odisseia da travessia do Estreito de Gibraltar pelos imigrantes - português (exibição com a presença dos realizadores)

Comunicação intercultural e a interacção de competências orientada para grupos


Publicação que apresenta os resultados de um projecto no campo da competência intercultural para a mobilidade profissional que foram a comunicação intercultural e a interacção de competências orientada para grupos, e dirigida a educadores e consultores que trabalham com profissionais na área das ciências sociais, gestores de recursos humanos, mediadores interculturais e professores de língua estrangeira do ensino superior com incidência no conhecimento intercultural.
Contém CD-ROM com 18 actividades de formação concebidas para desenvolver a competência intercultural de equipas multiculturais; uma análise detalhada de um estudo qualitativo sobre equipas multiculturais levado a cabo em 4 países representados pela equipa original do projecto (Áustria, Alemanha, Portugal e Espanha) e utilizados para definir os elementos principais do modelo desenvolvido e, uma análise de um inquérito sobre línguas e formação transcultural em 30 negócios e organizações internacionais.

http://www.ecml.at/mtp2/publications/B3_Icopromo_E_internet.pdf

8.7.08

Preservem as flores selvagens: aderência, adesão e lucidez -Variações metapsicológicas sobre o tema do poder-


Proferida pelo Prof. Doutor Luís Carlos de Menezes e comentada pelo prof. Doutor Duarte Cabral de Melo que se realizará na sede do Instituto de Psicanálise, na Av. da República, 97-5.º, em Lisboa, no próximo dia 11 de Julho, sexta-feira, às 21.30h.

O Prof. Doutor Luís Carlos de Menezes é Presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de S. Paulo (SBPSP), Psiquiatra, Doutorado em Ciências pela Universidade de Paris XI e desloca-se a Lisboa no âmbito de reuniões de trabalho patrocinadas pela CAPSA.

Nesta sua Conferência, tendo como pano de fundo as ideias de Freud, de Hannah Arendt e de Nietzsche, reflectirá sobre a contra-corrente às imposições massificadoras e conformistas do colectivo.