14.11.06

Algumas perplexidades

1. Outras Oficinas

No Público de Sábado, p 24, foi publicado um artigo sobre alegadas agressões do Padre Alberto Tavares, interno das Oficinas de S. José (no Porto), a um antigo aluno. Supostamente, o capelão residente, ex-director das Oficinas, teria exercido também violência psicológica de forma continuada sobre os alunos: " A botar sempre para baixo, sempre a dizer que somos escumalha, porcaria, pessoas sem carácter, animais..."

Se corresponderem à realidade, este tipo de comportamentos são exactamente o oposto do que é esperado dos técnicos que trabalham com menores social e psiquicamente vulneráveis. São comportamentos que agravam os sentimentos de menosvalia e desamparo; que lançam uma pano negro sobre o futuro; que reforçam fenómenos patológicos como a identificação ao agressor, o comportamento em "acting out", a oposição no lugar do diálogo, do respeito mútuo, da possibilidade contenção terapêutica, da construção de vínculos capazes de nutrir.

A juntar à suspeita, o vice director da instituição vem a público alegar que é " 'normal' que alguém que dirige uma instituição ao longo de trinta anos tenha atitudes enraizadas".

E o actual director não desmente ter pedido desculpas ao ex-aluno, deixando como muito provável a veracidade das suas acusações.

Dito isto, resta-me tentar perceber por que razão o capelão permanece como residente da instituição. Quais as funções que o vinculam à mesma? Januário Carvalho diz que se resumem às de capelão. Ora, a questão complica-se: um capelão, afastado das funções de director, acusado de agressão física e psicológica aos rapazes residentes, sem outras funções técnicas que justifiquem, de alguma maneira, a sua intervenção na equipa técnica, em conflito aberto (agora público) com pelo menos um "aluno"...deverá viver numa instituição para jovens em isco? A que título? Com que benefícios? Com que propriedade?

As crianças e jovens em risco não são propriedade de quem as acolhe. A responsabilidade pelo seu acolhimento, protecção e desenvolvimento é de todos nós. Como a sinto como também minha, deixo aqui estas perguntas. Para que me respondam, se souberem.



2. Depressão

Ontem, no programa Prós e Contras, o Dr. Francisco George referiu os números de pedidos de ajuda nos serviços de saúde pública que correspondem a casos de depressão. São da ordem dos 20%.

Disse ainda- e espero conseguir reproduzir de forma exacta, já que não gravei o programa e me limitei a reter algumas informações importantes- que a depressão é algo ainda muito desconhecido, com uma etiologia complexa, sobre a qual ainda não se sabe muito.

Imaginei como seria bom que Amaral Dias ou Coimbra de Matos tivessem também sido convidados, para que se pudesse falar da depressão com quem conhece os seus meandros, as suas nuances, a sua íntima indexação à pessoa que a sofre.

Francisco George diz ainda que qualquer médico de saúde está habilitado para receber um caso destes. Acredito que sim. Para receber, diagnosticar, até medicar convenientemente, se necessário. Mas depois? Quem faz o acompanhamento psicoterapêutico destas situações? o seguimento psiquiátrico, a psicoterapia individual, o psicodrama, a psicanálise ( viveremos certamente uma época diferente, quando a inserirmos nos serviços públicos...), a terapia familiar? Onde estão os técnicos de saúde mental nos seviços públicos? Existirão algum dia na ordem dos 20%?

Esta história faz-me lembrar vagamente a questão das habilitações para a docência. Para quê permitir aos psicólogos leccionar psicologia, quando os filósofos que o fazem, há tantos anos inseridos no sistema, são até capazes de dar conta do recado?

Sejamos sérios.

Por mjoaoregala

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