31.3.09

Brincar na rua

" - É na rua, entendida num sentido lato, que brincar é uma experiência melhor e mais completa?
Primeiro, há que distinguir o que se entende por «rua». Uma coisa são crianças de rua,outra crianças na rua. Quando falo do jogo na rua, estou a falar dos grandes movimentos – o saltar, o correr, o trepar…–, mas também da possibilidade de as crianças poderem perceber as características do espaço físico
e da própria natureza.
- Que repercussões têm essas experiências no desenvolvimento da criança?
Primeiro, essas actividades físicas – jogos com bola, jogos de corrida e perseguição, jogos simbólicos, jogos de salto e locomoção… –implicam um dispêndio de energia essencial para o desenvolvimento. Segundo, são importantíssimas para a capacidade adaptativa, do ponto de vista motor, emocional e afectivo. A vivência do território é fundamental para a estruturação de mapas mentais que dêem à criança uma identidade de lugar e uma identidade de si capaz de perdurar até à idade adulta. Todos nós tivemos, nas nossas infâncias, uma série de conquistas progressivas que vão da casa até à escola e da escola até à cidade em geral. Hoje isso não se faz. As crianças estão remetidas para dentro de casa.
- Brincar na rua nunca pode ser substituído por brincar dentro de casa, mesmo que não seja em frente a um ecrã?
Não, é impossível. As actividades fora de casa são de outra natureza, têm outra estrutura lúdica, outro tipo de regras e de risco. O que se passa na sociedade actual é que nós temos uma margem de risco muito aquém do que as crianças precisariam. Elas estão a ter uma protecção tão elevada que não permite desenvolver uma coordenação motora adequada, uma capacidade de discriminação perceptiva e uma capacidade de estruturação da sua imagem corporal, do seu esquema corporal.
- Se as crianças não estiverem habituadas a actividades ao ar livre, continuam a preferi-las?
Todos os estudos de investigação até ao momento dizem-nos que as crianças preferem
sempre brincar fora de casa, mesmo naqueles países que têm um clima muito austero."

Carlos Neto,professor na Faculdade de Motricidade Humana

ENTREVISTA Carla Maia de Almeida
noticias magazine 10.DEZ.2006

Sem comentários: