24.7.08

O sonho de um homem ridículo


"Crescia e fortalecia-se em mim, de ano para ano a consciência do meu ridículo, sob todos os aspectos. Riam-se sempre de mim por todo o lado, mas ninguém sabia nem suspeitavade que, se havia no mundo um homem convencido do meu ridículo, era eu próprio. E que ninguém compreendesse isso era o que me humilhava acima de tudo. Contudo a culpa era minha, pois fui sempre tão orgulhoso, que nunca concordaria com alguém que era um homem ridículo. Este orgulho aumentava com os anos e, sem dúvida, se eu pudesse confessar isso a quem quer que fosse, acredito que nessa mesma noite rebentava os miolos com um tiro de revólver."
O sonho de um homem ridículo, F. Dostoievsky

Quem sou e o que desejo revelar ao outro, no desejo de me descobrir e de ser olhado? Procuro uma imagem espelhada de mim, uma descrição de quem sei que sou, ouvida na voz de outra pessoa.
Muitas vezes, a identidade e a imagem de si forma-se periclitante e permeável.
O homem procura ser visto e não se mostra por querer evitar o trespasse, a diluição.

Como manejar isto na terapia?
Como respeitar o tempo de segurança, mais do que necessário, essencial, de um paciente devolvendo-o a si mesmo - o que conhece de si mesmo e o que é para além do que lhe foi possível ver?

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