18.7.08


"A intenção do narrador não é, entretanto, dar a essas formações sanitárias mais importância do que elas realmente tiveram. No seu lugar, é verdade que muitos concidadãos cederiam hoje à tentação de lhes exagerar o papel. Mas o narrador tenta-se mais a acreditar que, dando demasiada importância às belas acções, se presta finalmente uma homenagem indirecta e poderosa ao mal, pois deixaria então supor, que belas acções só vale tanto por seres raras, e que a maldade e a indiferença são forças motrizes bem mais frequentes nas acções dos homens. Essa é uma ideia que o narrador não compartilha. O mal que existe no mundo vem quase sempre da ignorância, e a boa vontade, se não for esclarecida, pode fazer tantos estragos como a maldade. Os homens são mais bons que maus, e, na verdade, a questão não está aí. Mas ignoram mais ou menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado o da ignorância (...)
A peste, Albert Camus

Recebi, há uns dias, na minha caixa de correio, umas fotografias do Holocausto, com imagens incrivelmente reais. De tão reais faziam-me perder alguma clareza de pensamento.
Se, por um lado, senti uma enorme revolta, por outro, senti uma revoada de perguntas a invadirem-me o pensamento. Mas terá isto sido verdade? As expressões nas caras deles... tão mortalmente serenas. E como é que estavam vivos com o corpo naquele estado. Tamanha magreza. Como conseguiam ficar de pé? Trabalhar? Aguentar o frio com aquelas roupas... e porque não têm calças? A maior parte deles não veste calças...

Lembrei-me de duas coisas que ouvi de diferentes amigos. Uma é a teoria de que o Holocausto foi um episódio utilizado pelos judeus para manipular a opinião pública; para obterem uma imagem que não me recordo qual era. A outra era sobre a quantidade de massacres e genocídios ocorridos ao longo dos últimos tempos, dos quais não se fala e os quais não têm uma cobertura minimamente significativa nos media, nas escolas, e outros meios de passagem de cultura e informação.

Fiquei preocupada com a forma volátil que o conhecimento pode tomar.
Questiono-me sobre como é que isto acontece.
Como é que se chega a este ponto em que determinado conhecimento é posto em causa, é relativizado.
Já muitos alertaram para esta questão mas creio que pouco ficou do problema que pode significar crescermos sem memórias colectivas, sem aprendizados, sem história, sem partilhas de tentativa e erro, sem soluções ganhas, sem perdas a recordar.

Recentemente vi os filmes de animação "Over the edge" e "Kung Fu Panda" e em ambos os filmes há o recurso à formação do chamado cogumelo atómico para representar uma forte e poderosa explosão.
Estarei a exagerar quando digo que considero ser ultrajante e de uma enorme leviandade a forma como a informação vai passando e sendo banalizado ao longo do tempo.

Tudo isto me deixa com muitas questões que gostava de discutir mais profundamente.
Gostava de ler o que vos ocorrer quando lêem o que escrevo.

1 comentário:

W disse...

Realmente é incrível como apenas acreditamos naquilo que queremos acreditar. Mesmo quando há factos. E em que é que queremos acreditar? Terá isso a ver com a nossa educação, com os nossos genes?
Uma vez li uma coisa sobre os vários "pecados" da memória, se econtrar mostro-te. Mas no fundo falava sobre as "deficiências" da nossa memória. E uma delas era a criação de memórias falsas. E fez-me uma impressão ver como é fácil implantar uma memória falsa no nosso cérebro... Quem sabe a quantidade de memórias, aparentemente irrelevantes, que são na realidade ficção ou memórias de outras pessoas das quais nos apropriámos?
Bem, entretanto desviei-me do tema, e como este comentário já vai longo, fico-me por aqui.

Até segunda.