18.4.08

Freud Museum

Pois é, estive lá, perguntava-me a mim própria pelo caminho se seria importante, o que é que interessa?, é a obra ou o homem ou ambos?, perguntava-me todas essas coisas, sem saber responder. Logo ao sair do metro, fiquei aflita pois sem esperar encontrei uma daquelas livrarias quase inteiramente psicanalíticas, devo ter passado lá mais tempo do que em frente às estatuetas do Freud. Depois segui, Hampstead é bonito, moradias em fileira, jardins frondosos e uma calmaria indescritível e ao fim da rua a famosa Tavistock Clinic, tudo ali mesmo à mão. Andei, andei, mas logo o mapa me fez recuar até à exacta localização, pois as setas que começam na estação não servem de muito entre a paisagem monótona de Londres e dos seus bairros residenciais. Uma casa igual a tantas outras, um jardim bem cuidado e sem placas. Parei, respirei fundo tentando perceber se a minha entrada seria permitida, ou se não estaria pura e simplesmente a invadir propriedade alheia, mas a porta cedeu e eu entrei. Já não me espanto, estava o porteiro… num minúsculo hall de entrada aos berros ao telefone com a mulher ou a sobrinha, a sua voz ecoava por toda a casa, em conjunto com uma outra voz vinda do primeiro andar. O senhor era português, claro, e fez-me avançar prontamente para a pequena loja improvisada numa espécie de marquise das traseiras, onde pude encontrar acumuladas em prateleiras todas as piroseiras típicas dos museus, tipo porta-chaves a dizer super-ego e ainda alguns livros apetecíveis e quase toda a obra da Anna Freud. A casa era também dela, aliás foi dela por muito mais tempo, pois Freud apenas passou ali o seu último ano de vida. Contudo, não deixa de ser impressionante que na sua fuga aos nazis, Freud tenha feito transportar para Londres o mais importante da sua imensa biblioteca, os móveis históricos da psicanálise e a sua valiosíssima colecção de arte ou de artefactos, autênticas raridades negociadas no mercado negro (sobretudo da antiguidade clássica) e também objectos banalíssimos, quotidianos e funcionais de outras épocas. Diz-se que tentou reproduzir ali o seu espaço criativo de Viena, a exacta disposição, a estante com os livros mais importantes diante da escrivaninha, a meia dúzia de estatuetas aí colocadas, em frente do papel e caneta, imagino os diálogos de Freud com estas estranhas criaturas que o acompanharam talvez por mais de 40 anos de criação e o charuto, claro, imóvel no cinzeiro. E os óculos pousados ali, impressionou-me... pena é que não tenha podido avançar para além da soleira da porta, queria ter vasculhado os livros de uma ponta à outra e ainda teria tido espanto para as estranhas figuras e objectos que acompanharam o acontecer da psicanálise. Pergunta a Ana num post abaixo qual será a verdadeira extensão da psicanálise hoje e como se fará ela sentir nos nossos actos quotidianos. Não sei, mas só me lembro desta ideia que li algures, terá sido talvez a intuição de Freud também, de que a importância da psicanálise se faz sentir na exacta medida da imensa resistência que provoca, tanto hoje como ontem.

Beijos grandes para todas, estou a caminho do nosso país que tem um sol tão lindo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, é isso. E isso compreende tanto em si.

Anónimo disse...

Obrigada pela viagem Adriana.