27.5.07

A Tertúlia das Oficinas

Aqui vos deixo o mote que norteou a nossa Tertúlia de ontem, dedicada à prevenção de comportamentos de risco e promoção de estilos de vida saudáveis, realizada na Escola Aires Barbosa em Aveiro. As oradoras foram a Paula Garcia, representante do Teatro Viriato, que nos trouxe o aliciante Projecto Harmonia e a Maria João Regala, psicóloga clínica, que nos veio falar do Programa Jovem-a-Jovem e da Educação entre Pares em Portugal.


A adolescência é tempo de riscos, é tempo de contradições, é tempo em que tudo muda e se reconfigura. O corpo ao centro abre as “asas do desejo” para o “segundo nascimento”. A luta que vai à morte e vai à vida deixa para trás uma infância reenviada e reinventada para um futuro a construir de identidade e autonomia. Para dar sentido à vida, o adolescente interroga-se a si e aos outros em experiências novas e intensas, em sensações fortes e singulares. Procura o desvario pleno de vontade de ir além, de provar uma invencibilidade, de cheirar a imortalidade…O caminho que se arrisca pisa o risco do conhecido e do desconhecido, do permitido e do interdito, do lícito e do ilícito. Não há adolescência sem risco e mais… não há crescimento, não há autonomia, não há diferenciação, não há identidade sem riscos. Sem risco também não há sentido nas escolhas vindas de dentro que brotam duma incessante busca. O adolescente transborda do interior para se fazer ver no exterior, ao nosso olhar atento e não aflito ou às vezes sim… porque a questão do adolescente vai a todo lado e vai até nós pondo-nos
em questão. A adolescência é assim, põe tudo numa balbúrdia. Faz e refaz quando se trata de esboçar limites e de negociar a passagem para o mundo dos adultos. E o corpo é por onde se joga aquilo que não se é ainda capaz de pôr em palavra dita para o outro ouvir. O adolescente apropria-se do corpo aos poucos, com desejo e receio, tentando controlar os seus actos para chegar ao pensamento. Alguns precisam de agir, fugir, gritar, roubar, consumir, comer ou deixar de comer… outros instalam-se na passividade com medo do que podem ser. Quando o equilíbrio instável se rompe e pára a vontade de crescer, é difícil refazer e o adolescente quebra onde já era mais frágil, instaurando-se o sofrimento. A ajuda urge para voltar a pôr o processo em marcha, nestes casos. Outros há, aliás a maioria, em que a interpelação e a pequena transgressão estão ao serviço da construção do ser.

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