1.12.06

SIDA

Comemora-se hoje o Dia Mundial de Luta contra a Sida, com más notícias para Portugal. Na Europa a 25, somos os segundos, logo a seguir à Estónia, em número de novos casos de infecção (251 por milhão de habitantes). Seríamos, talvez, os primeiros não fosse a elevada subnotificação, que continua a persistir apesar do regime de declaração obrigatória ter entrado em vigor há mais de um ano. A ONU estima mesmo que o número de infectados seja mais do dobro do que está declarado. Isto porque, segundo explica o coordenador nacional Henrique Barros ao jornal "Público" de hoje, só agora está a ser criada uma "aplicação informática" que centralize a informação proveniente dos diversos serviços de saúde. Outro dos problemas prende-se com o facto de numerosos clínicos não fazerem a declaração na "esperança" de que outros a façam. Assistimos, não raras vezes, ao "desaparecimento" do doente com VIH no caminho entre o serviço que o detecta e o serviço de infecto-contagiosas para onde é enviado. Não tem havido uma estratégia conjunta e consistente dos serviços para fazer face ao "abandono" e "desamparo" a que estes doentes são votados.

Ainda dois apontamentos, antes de ir à toxicodependência. Pelo último relatório da ONUSida ficamos a saber que em Portugal o número de homossexuais infectados aumentou em dois terços, contrariamente ao que tem sucedido noutros países da Europa. O segundo apontamento não pode deixar de ir para o fenómeno em meio prisional. Constatamos com indignação que continua quase tudo na mesma, ressalvando o esforço feito na detecção do VIH entre reclusos. Os preservativos não são distribuídos de forma sistemática e a troca de seringas é uma miragem! Até quando?

Sida e toxicodependência, ora vamos lá ver o que se passa, porque é a realidade com que lido mais de perto. Dos toxicodependentes que permanecem em tratamento e visitam regularmente as estruturas do IDT, podemos dizer que estão relativamente controlados, porque são alvo de exames periódicos e têm ao seu dispor um manancial de respostas, que vão do apoio social ao acompanhamento psicológico, além da parte médica, geralmente feita em articulação com os serviços de doenças infecto-contagiosas. Contudo, também nestes serviços assistimos à subnotificação e à falta de dados estatísticos fiáveis. Só agora se está a começar a fazer um esforço nesse sentido, com orientações vindas dos serviços centrais e procedimentos estandardizados. Vai ser implementado em 2007 o "Programa Klotho", que pretende assegurar a identificação precoce e prevenção do VIH entre os utilizadores de drogas e a sua correcta referenciação às unidades hospitalares. No fundo, são os chamados "testes rápidos", à semelhança do que já é feito nos Centros de Aconselhamento e Detecção do VIH. Este programa foi desenvolvido pelo CNSIDA e pelo IDT e entre as suas principais virtudes estão a possibilidade de um acompanhamento mais integrado e integrador pré e pós teste e a aposta na prevenção daqueles que ainda não estão infectados, mas apresentam os riscos inerentes ao consumo de drogas.

Algumas dúvidas se levantam ainda quanto à metodologia dos testes rápidos. Onde ficará o tempo de espera que é o tempo da elaboração para o psiquismo dar conta da notícia "catastrófica" que é um resultado positivo? Esta reflexão preocupa actualmente os psicólogos dos serviços onde vai ser implementado o programa. Espero vir, lá mais para a frente, com um post dedicado ao assunto.


PS: Ainda bem que a oposição ao executivo camarário de Lisboa não deixou passar em branco a inusitada falta de articulação com o IDT na criação das primeiras "salas de chuto" em Portugal. Que sentido faz trabalhar-se isoladamente?

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