27.11.06

Os modelos

Desta feita, o Seminário do Prof. Amaral Dias, realizado este fim-de-semana em Estremoz, foi um ir entremeando teoria com a apresentação e discussão de casos clínicos. Não houve a tradicional divisão entre teoria de manhã e clínica à tarde. Julgo não ter sido por acaso ou, pelo menos, surge-me daí uma reflexão que percorre o fio associativo do que foi sendo dito. E também, se bem se lembram, na formação sobre Bion, organizada pelas Oficinas, esta foi uma questão premente.

Para que servem afinal os modelos teóricos? Qual é o seu lugar na prática clínica? Qual é o uso que deles fazemos? Usamos apenas um ou percorremos vários?

Teoria e clínica não se despegam, é certo. Mas como é que fazemos esta passagem bidireccional? E onde é que nos situamos? Sou freudiano? Sou kleiniano? Sou bioniano? O Prof. responde a isto de uma forma desassombradamente simples, que é "Eu sou o Amaral Dias e li Bion". Que quer isto dizer? Noutro momento, prossegue "Vamos sendo povoados de modelos conceptuais à medida que vamos escutando" Quer dizer que do ouvir ao escutar falam também os modelos dentro de nós, mas mais importante ainda é que não falam antes, falam à medida que o paciente fala. Porque no início tudo é "expectativa vazia"...

A este propósito não posso deixar de chamar aqui esse extraordinário pensador que é Muniz de Rezende.

"Ao falar sobre os modelos, Bion nos diz que eles "servem", mas podem ser dispensados depois do uso. São úteis, contanto que não nos prendamos a eles. Por isso dizemos que a psicanálise é pós-paradigmática: ela vem depois de todos os modelos, usados e abandonados. O não-abandono do modelo opera uma redução epistemológica que não permite a passagem do conhecimento para um outro tipo de ciência." (in "A Questão da Verdade na Investigação Psicanalítica", p. 19)

Usar sim, não um mas vários e só enquanto for para expandir o pensamento, é a lição que me fica.

Por Adriana Curado

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