7.4.08

Alívio rápido

Hoje no The Guardian:

As crianças estão a ser postas em risco pelo uso de medicação anti-psicótica prescrita para controlar problemas comportamentais como a hiperactividade. No Reino Unido, o número de crianças a tomar este tipo de medicação duplicou desde o início dos anos 90 e nos Estados Unidos estima-se que 2.5 milhões de crianças tomem anti-psicóticos. Contudo, o uso de anti-psicóticos não está licenciado para este tipo de população (apenas para adultos) e tão pouco há dados suficientes que comprovem a sua eficácia e segurança. Ian Wong, professor de Investigação em Medicina Pediátrica na London School of Pharmacy, sustenta que em crianças sob medicação anti-psicótica a taxa de mortalidade é muito mais elevada e David Healy, professor de Psicologia Médica, afirma que pode haver muitas razões para isso, desde logo porque esta é uma droga que actua no sistema dopaminérgico, também responsável pela regulação cardiovascular.

De qualquer forma, penso que todos nós, no nosso contacto clínico com pacientes sob medicação anti-psicótica, crianças ou adultos, sentimos os efeitos adversos desta medicação. A quebra no imaginário, a dificuldade em pensar e em sentir, o afastamento da realidade, a desvitalização, a apatia, a tristeza sem tristeza, etc. É evidente que há casos em que tal administração se justifica, com muita precaução e sabedoria, mas outra coisa parece ser o uso abusivo em situações que mais fazem lembrar a aplicação de um castigo ou correctivo. O menino porta-se mal, é irrequieto, chateia tudo e todos e a sua sentença é ditada: hiperactividade. Associada a essa sentença vem muitas vezes a consequência: a medicação para acalmar.

Depois haveria ainda outras considerações a fazer como seja o interesse da indústria farmacêutica, a falta de tempo e de formação dos médicos, a falta de recursos na saúde mental, tudo aspectos que não deixam de ter peso no facto de se medicar cada vez mais as crianças, ao invés de se procurar ir além do sintoma.

Penso aliás que este é também um sintoma das nossas sociedades de alívio rápido.

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