22.1.08

O que se pensa e o que se pensa sobre o que se pensa


Esta é uma altura de mudança. Como tantas outras documentadas na história de cada um, na história das sociedades, na história do mundo.
Estamos a mudar e pronto. Alguns dirão "mas a mudar estamos sempre...".
Pois concerteza que sim.
Há mudanças e mudanças, no entanto. Umas sentem-se mais que outras, cum raio! E esta, devo dizer, faz-se sentir com firmeza.

Daí que, numa tentativa frustre mas não improdutiva de adaptação, ou acomodação, como lhe queiramos chamar, tenho pensado sobre como pensar o que ando para aqui a pensar.
Ocorreu-me que, se há uma mudança significativa a considerar na realidade que me rodeia, então não poderei fazer uso apenas do meu pensamento tal como o usei até agora. Se novos esquemas, soluções, concepções e olhares sobre o mundo são desejados então terei que fazer alguma ginástica mental, mudar de ritmo, olhar de esguelha, usar novos espelhos, lupas ou estetoscópios.

Foi no meio de todo este embrulho que me deparei com a crónica O fantasma do Natal analisado, escrito por Ricardo Araújo Pereira.
Deste texto retiro alguns parágrafos para ilustrar, com humor, assim espero que o sintam, o meu ponto de partida que, apresentando-se como um fim - pensar sobre o como pensamos algo -, pretende ser apenas um começo discussão e possibilidades.
Que valham os dois personagens - o moralista e o moralista que pretende moralizar os moralistas para que deixem de moralizar - pelas questões sobre as quais nos debruçamos diariamente, numa abordagem a dois tempos, visão de entendimento binário.

"Basicamente, há dois tipos de crónica natalícia: a moralista e a moralista que tenta moralizar os moralistas para que deixem de moralizar. Na primeira categoria estão todas as crónicas alguma vez escritas sobre o Natal; na segunda, encontra-se esta, cuja solidão se explica, provavelmente, pela sua profunda complexidade. (...)
"Repare: se a crónica pretende moralizar os moralistas para que deixem de moralizar, está a falhar à partida o seu objectivo, que é fazer com que se deixe moralizar, uma vez qu ela própria moraliza. (...)
"A crónica natalícia moralista costuma apresentar duas ou três críticas recorrentes. Uma diz respeito ao consumismo acéfalo das pessoas. (...) O consumismo acéfalo dos outros é repugnante, sobretudo na medida em que me impede de praticar o meu. (...)
"Outra crítica: a vontade artificial de sermos bondosos, que é tão hipócrita porque dura apenas uma semana e desaparece no resto do ano. A verdade é que a preocupação dos cronistas com a hipocrisia é igualmente hipócrita, porque também dura apenas uma semana e desaparece no resto do ano. (...)
"Pois eu digo: que se lixem os moralistas."

Ocorre-me agora que um dos possíveis aliados à construção de novos esquemas e possibilidades de pensamento, criação de novas hipóteses teóricas, poderá ser o nonsense.
Um pouco à semelhança da associação livre, em contexto psicanalítico, via para uma descoberta interna mais e mais abrangente, enriquecida e complexa, o recurso ao nonsense serviria como via de acesso a um pensamento ampliado e enriquecido.

Exploremos as ferramentas vizinhas de nós, com gozo. Pensar tornar-se-á colorido e ritmado, por oposição a preto e branco - isto, numa lógica binária, a dois tempos.

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