20.2.07

Sem dor, como é?

Viver sem dor, como é? Viver sem nunca ter sentido dor, como é? Se isto for possível, como será o psiquismo "organizado" sem dor? Será necessariamente diferente daquele que concebemos na actual teoria psicanalítica? Que será do princípio de prazer-desprazer? E do princípio da realidade? E a modificação da frustração que instaura a capacidade para pensar onde fica?


No passado mês de Dezembro, a revista Nature publicou um estudo sobre seis indivíduos no Paquistão que não sentem dor, apesar de serem capazes de sentir tudo o resto (tacto, pressão, noção de posição). Estes indivíduos, sem usufruírem do carácter adaptativo da dor, expõem-se frequentemente a ferimentos e fracturas graves. Os investigadores descobriram que esta ausência de dor se deve a uma mutação genética, que altera o funcionamento de um canal de sódio específico, que impede que o cérebro receba o alerta de dor. É certo que se referem aqui à dor física, mas será que a dor psíquica não percorre os mesmos caminhos no cérebro? Será que a dor física e a dor psíquica são completamente distintas? Haverá uma dor puramente física e outra puramente psíquica? Penso que não. Seria importante que este estudo se estendesse ao funcionamento psicológico destes indivíduos e não ficasse apenas pela possibilidade de se desenvolver novos medicamentos analgésicos.

Por Adriana Curado

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