22.2.07

"se há vida em ti a latejar"...

A vida é, de facto, muito mais surpreendente do que a ficção. Já o disse neste blog, em tom irónico, mas desta vez é com espanto e entusiasmo que trago esta notícia que saíu no Público de ontem, 21 de Fevereiro, que anuncia a alta do bebé mais prematuro do mundo.

Durante o meu estágio clínico tive o prazer de fazer algumas horas de observação de bebés prematuros na unidade de intervenção precoce da Matenidade Bissaya Barreto. Lembro-me muito bem da fragilidade dos bebés internados e do meu espanto perante um deles, um valente que lá estava, tão pequeno, a respirar a plenos pulmões numa luta tremenda pela vida. Nunca soube se ele teve a sorte e a persistência da Amillia, mas aquele respirar merecia uma vida plena.


"Amillia, o bebé mais prematuro de sempre, está prestes a sair do hospital bem de saúde
21.02.2007, Clara Barata


Tinha apenas 22 semanas de gestação e trinta por cento de hipóteses de sobreviver
quando foi obrigada a abandonar a barriga da mãe
a Quando nasceu, Amillia tinha o tamanho de uma caneta. Tinha passado apenas 22 semanas no útero materno e media uns escassos 24 centímetros. Pesava 284 gramas. Os médicos tinham pouca esperança de a salvar: nunca um bebé nascido com menos de 23 semanas e 400 gramas tinha sobrevivido. Mas Amillia fez um risco por cima das sentenças de morte anunciada: ontem estava para ter alta do Hospital Baptista para Crianças de Miami (EUA), onde se encontrava desde que nasceu, a 24 de Outubro. A saída acabou por ser adiada, mas o prognóstico dos médicos continua a ser "excelente" e em breve deverá ir para casa com os pais, Sonja e Eddie Taylor, segundo a CNN.
Durante as primeiras seis semanas, a mãe não pôde sequer pegar em Amillia ao colo, tão frágil era. Ainda não conseguia respirar bem, porque os pulmões não estavam completamente formados. Mas, ao sair da barriga da mãe (por cesariana), respirava sem assistência e tentou chorar.
Pelo padrão médio de desenvolvimento intra-uterino, pode dizer-se que as pálpebras de Amillia estavam a começar a rasgar-se, para que pudesse abrir os olhos. Cuidar de um bebé tão imaturo foi como navegar em águas desconhecidas: "Nem sabíamos qual a tensão normal para um bebé tão pequeno", comentou o neonatologista William Smalling, citado pela AP.
Teve uma hemorragia cerebral ligeira e problemas digestivos, mas que não devem ter consequências para a sua saúde.
Agora está a chegar aos dois quilos e tem 66 centímetros: "Pode deitar-se num berço normal e mamar de um biberão", disse Smalling. "Para mim, até parece gorducha", confessou a mãe.
Amillia foi criada através de fertilização in vitro, ou seja, os espermatozóides do pai e o óvulo da mãe foram "apresentados" num pratinho de laboratório. Só depois de fertilizado, o óvulo foi transferido para o útero.
Estes tratamentos podem ser uma espada de dois gumes: por um lado, permitem a casais inférteis ter filhos. Mas têm riscos, como o parto ser prematuro. É pior se forem gémeos: 61,7 por cento dos gémeos criados com técnicas de fertilização nascem antes do tempo, diz um relatório do Instituto de Medicina das Academias de Ciências dos EUA, divulgado no Verão.
A duração normal de uma gravidez é de 40 semanas (Amillia teve pouco mais de metade desse tempo). A designação de "prematuro" é usada para bebés que nasçam antes das 37 semanas e, nos EUA, cerca de 12 por cento nascem nesse período. Quanto menos peso têm à nascença, menos desenvolvidos estão os órgãos e mais riscos têm de sofrer complicações, como paralisia cerebral, atraso mental, problemas de pulmões e gastrointestinais, ou perda de visão e audição.
Nos últimos 20 anos, novos tratamentos para a infertilidade têm andado a par com o aumento da sobrevivência dos prematuros. A estimativa da Associação Americana de Pediatria para a sobrevivência de um bebé com menos de 23 semanas e 400 gramas era só de 30 por cento. "Talvez tenhamos de reconsiderar os limites, depois de Amillia. Ela é mesmo um milagre""

Por mjoaoregala

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